domingo, 20 de setembro de 2009

o espetáculo antropológico






Passada a analgesia sensitiva, me alegro por me perceber percebendo esse mundo que nos envolve. O perceber é sofrer, no entanto não há um gozo no se perceber sofrendo, no entanto paradoxalmente existe um mérito, o mérito do perceber. Um mérito fruto da agonia, da indigestão urbana, da animalidade humana...
Há um mérito no se reconhecer sofrendo, suportando o peso de existir, do se ver oscilar entre a alegria e a decepção, sufocando na existência e desesperadamente relutando contra essa ânsia agonizante do cardíaco que se surpreende pelo ataque que de presente lhe oferece a morte, o suspiro salvador surge no palavrear a realidade um suspirar que nos livra da implosão em si agonizante... Palavrear é a catarse é uma tomada de consciência terapêutica, sofremos, no entanto existimos mais fortes.
Diante do desabafo me resta um confessar, confesso que me perdi no gênero e estilos do meu não saber escrever, me perdi na poesia, no conto, na crônica. Hoje o que será vomitado é um new style o caoscronicopoeticuscontado social, define-se por ser uma porra sem regras, no entanto organizado.
Esse estado em que se escreve é um retrato real das nossas identidades urbanas, e é em homenagem ao homo teoricus “meu camará Elnatan” que apresento a nós todos o que ele chamou de (A piração sociológica), completo piração sociológica global.
O que será narrado é algo enraizado há séculos na nossa cidade, ela Salvador, essa salvador já não salva a dor de ninguém, aqui as pessoas padecem mesmo independente da classe social, da pobreza material a pobreza afetiva, intelectual, pobreza do existir.
“E é por querer retratar o padecimento antropológico dessa cidade que lhes oferto pensamentos e imagens captados em mais um dia de agonia (daria um bom nome de programa da televisão), existiu o portas da esperanças, hoje seria legal” um dia de agonia” depois de esperanças frustradas agonizar é a moda, e acreditem ela da ibope.
Vamos a fatos, sorria você esta na Bahia, a terra da alegria. Define-se alegria: interdição do vir a ser, turismo, dinheiro, ou aprisionamento reciclável de homens na imagem.
Porque toda essa viajem ? acompanhei amigos que foram ao pelourinho gravar um curta metragem para participar de um festival do cinema, até aqui tudo ótimo. Ali no pelô em sua curta metragem urbana uma longa historia se passava naquele filme montado e rodado todos os dias na mais profunda alegria. O filme comercial e por isso virtual, filme com os seus principais atores atuando sem saber, filme que utiliza figurantes que há anos vivem no espaço atuando sem saber mais sentindo sabendo o porquê sentem, existindo honestamente no seu habitat inventado invadido pelo espetáculo.
Permito-me um trocadilho, a princípio chamaram o filme de pelourinho, no entanto devido à quantidade de astros europeus chamemo-o de PELOIRINHO, eles já dominam e atuam no espaço. No filme inventado pela indústria não só filmado por alguns, com a-tores, algo me prende a atenção! A mizeria linda, a mizéria negra pedindo passagem, a mizéria montada no pescoço do negro, a mizéria passando em frente às câmeras e sujando todo cenário se sobressaindo aos atores do comercio global, sujam, mancham o espetáculo com sua verdade existencial.
A mizéria humana e descalça interdita a cena e oferece a mão antes espancada, e agora pura com marcas da surra histórica, ainda vazia na carência monetária e nutricional do corpo aprisionado no estigma e no marketing do filme.

O negro esmola sem escola joga bola
O branco propagandista aprisionou o negro na imagem do capoerista.

O negro ainda é espancado e explorado no dia a dia do peloirinho, a existência negra dominada pela venda da imagem de um negro capoeira interdita o vir a ser, aprisiona as possibilidades e reduz o negro no que lhe é singular. O negro que limitado por um discurso limitante do outro, imobilizador que o fere na raiz da existência fica a deriva dançando no espetáculo como a coisa exótica a ser observada, como os loucos na Europa antiga, a diferença é que o circo é aberto, sem lona, um circo sem proteção como um bicho solto porem preso. O negro dançante é observado peloloirinho, restrito a capoeira engrossando e aumentando a poeira que lhes obscurecem na historia.

Entre o branco que compra e o negro que pede algo ali se sucede.

O algo que se sucede é um tanto quanto interessante de ser registrado, e confesso merecer mais linhas do que as aqui dedicada, durante o espetáculo, entre os intervalos de cenas do curta metragem, uma matilha passeia pelosloirinhos no peloirinho. Uma matilha que nos fornece uma reflexão importante nesse momento de exploração de imagnes e espaço. Os mais de 26 cachorros se organizam em bando, ladram aos que deles se aproximam. É bonito perceber os cachorros unidos (daria uma super potencia no reino animal), conseguem unir uma espécie com diferentes raças que dominam o espaço e exercem o seu poder canino, a matilha é um exemplo de como proceder, se organizar e de como se livrar dessa armadilha, a arapuca que aprisiona. Atenção camaradas, cortemos a cena, vamos rosnar aos que exploram.