sábado, 1 de dezembro de 2012

Miss Bumbum 2012

Quem disse que bunda não é coisa de filósofo ou de filosofia? É sim, tenho dito, afinal, uma boa filosofia se faz com bunda, sentando a bunda, seja nos bares ou nos mais variados ateliês filosóficos. Muitas das grandes ideias devemos a alguns filósofos bundões cujas cabeças e cérebros igualmente grandes e importantes assemelham-se às nadegas das mulheres de época, melancia, melão, morango, enfim, qualquer das frutas que por serem de estação: passam. O texto que segue, tem por objetivo pensar e louvar as bundas e a sua relação com a filosofia, a partir da Miss Bumbum 2012.
No Brasil, a virada bundistica nos oferece todo conteúdo para circunscrever o debate. Vejamos as manchetes: não são uma, nem duas, nem sete. A nossa opinião pública esta marcada de bundas, pouco atraente é verdade. As manchetes fornecem a matéria prima dos nossos pensamentos. Graças à mídia, o nosso cotidiano constitui-se de uma bundeza só, ou bundarias para respeitar o pluralismo democrático da Chantal Mouffe.
Adentrando as bundas, caso não tenha ejaculação precoce, vais compreender o que digo; sejamos céticos, suspendamos o juízo e investiguemos um pouco mais do que se trata, a ver. Ao tratar de um conteúdo, ao qual yo soy muy versado, não poderia faltar uma reflechão, tão pertinente, para nivelar claro, por baixo nosso debate. Por baixo, por cima, ou de quatro, decidam. Como diria Marx, a filosofia tratou até o momento de interpretar o mundo, trata-se agora de transformá-lo, sábio Marx, profeta das nadegas. Nesse sentido, a reflechão, para fazer jus as bundas, traz ao chão à filosofia. Assim como a gravidade atrai os corpos, bunda e o papel da filosofia são indissociáveis. A filosofia mon amies, vem para a terra – e haveria lugar melhor? Descemos juntos até o chão, bunda e filosofia, reflechão, reforcemos o conceito, a reflexão da primeira com a descida até o chão da segunda. A filosofia, rala a tcheca no chão, chão, chão.
Em um país tão aBUNDAnte, não raro, é realizado o denominado: Miss Bunbum. São pessoas, que se esmeram por mostrar o que consideram possuir de melhor. Para confundir entre o que elas têm de melhor e o que de melhor o Brasil tem é, como se diz no interior, um pulo. Brasil e bunda fundem-se, ou melhor, FODEM-se em um só coração, com o apoio da Veja, Folha de SP, O Globo e mais uns três correspondentes internacionais. Notem a bunda, o nosso país e a nossa cara de bunda viram manchete internacional, e nesse fato, vai uma dose de orgulho, afinal, trata-se da bundialização do Brasil, trata-se da nossa bundentidade. Voltemos ao esmerar-se.
Em uma nação onde a grande maioria da população toma na bunda em meio a luta pela sobrevivência, ver o esmero, o esforço, os desdobramentos das candidatas a Miss, em vista do reconhecimento (qual ?) converte-se no pathos, o verdadeiro espanto, objeto de reflechão. Em um país onde a solução biográfica para problemas sistêmicos são uma regra, utilizar-se da bunda não torna a candidata uma criminosa ou gente pior. Em tempos de humanização, a Miss Bumbum é senão uma vítima. Para agradar os sistêmicos: elas constroem a sociedade que lhes constrói.
Durante o desfile, as mulheres se abrem, se contorcem se puxam e se esticam sobre a passarela, lançam-se ao chão e realizam as mais inimagináveis posições para convencer os jurados daquilo que Aristóteles denominou de ato e potencia. A bunda em ato, o que ela é, e a potencia, o que ela poderá vir a ser – ou produzir do ponto de vista comercial, determina a possível vencedora. Os desdobramentos humanos, demasiadamente humanos revelam consigo, por um lado, o vale tudo pelo reconhecimento da bunda; por outro, o quão desatualizado e limitado esta o Kama Sutra e suas posições ultrapassadas.
Ao fim do evento, eleita a bunda mais linda de 2012, a vencedora, aos prantos, desfilou na passarela empunhado as bandeiras do seu estado, Pará, e do seu país, o querido Brasil. Em outros tempos, talvez Policarpo Quaresma – personagem de Lima Barreto –, estivesse aos berros com seu ufanismo, defendendo as bundas brasileiras. Mas, passaram-se “os tempos” e os ufanismos são outros, não menos importante é verdade. Trata-se agora, de defender o Brasil, de defender o corpo brasileiro do mau uso que se faz da sua imagem – imagem que se constrói, exporta e vende. Em tempos de Copa das confederações, copa do Mundo, Olimpíadas, expansão da rede hoteleira e dos aeroportos, não vai faltar quem queira conhecer o País e Gozar nos “seus atributos”. Enquanto a imprensa produz “matérias de bunda”, é o Brasil que toma no CÚ. Até quando? Isso é Filosofia! Saca meu rei?

sábado, 22 de setembro de 2012

Ô Milton músico filósofo...

O Milton disse: " todo artista deve ir onde o povo esta".
E mainha disse "uma pena que os filósofos não são músicos".

Músicos: musilosofam
Filósofos contemporâneos: leem outros filósofos.

Filosofar no barulho pode tornar tua tese barulhenta.
Filosofar no silencio pode tornar tua tese EXcelente.

O filósofo precisa de silencio,
e o silencio precisa da filosofia.

A filosofia que diz alguma coisa, pode não dizer nada.
A filosofia que diz muita coisa, é provável que diga alguma.

Advertência aos Machistas: Caso a tua esposa pense, veja bem, re-pense.

Advertência as Feministas: Caso o teu homem pense, encontraste a joia rara.

Advertência aos Estudantes: Na fila do desemprego, um diploma é duas poltronas.

Advertência aos Políticos: se falas mal de Lula, perdes voto; se falas bem de Lula, cuidado.

Advertência a Igreja Católica: Meu senhor, o teu Papo já não Papa.

Advertência aos Evangélicos: Amém, não poha, sexo não, desgrudem. Assim seja eu quis dizer.

Advertência a mídia: Vejas quês Folhas mais sujas mais cheias de graxa, são elas meninas a nossa pró-pria desgraça no doce balanço a caminho do esgoto!

Frase da semana: A Baiana de acarajé indignada com os buracos na Barra Avenida, disse: " João HenRICO meu Rei, pimenta no rabo ou VÁTAPA? As obras já estão quase concluídas.

Do diabo para ACM neto: Meu herdeiro, sou eu, teu vôvo.

Da Policia Militar da Bahia, em nota offcial: " o auto de resistência será distribuído a todos os policiais do Estado em carne de cheques em branco".





sexta-feira, 20 de julho de 2012

ESTADO

Ei, psiu, vejam o Estado do Estado na Europa!
Ei, psiu, vejam o Estado detestado do Estado no Brasil!
Ei, psiu, vejam o Estado, amado,
Ei, psiu, vejam o Estado Armado
Entre o Eurocentrado e o iDollartrado, o nosso Estado é Real,
Trata-se de defende-lo,
em um solo onde ainda respira...

sábado, 9 de junho de 2012

PT: UM GRANDE PARTIDO

   Não é necessário muito esforço para situar o momento histórico em que o Partido dos Trabalhadores emergiu na sociedade brasileira. Uma economia em transito, do agrário ao industrial, uma classe operaria e a organização sindical, um partido político e um líder nas entrelinhas da história. Se lhe faltava um dedo, lhe sobravam palavras. E assim foi... E assim tem sido. E assim não deve ser.
    Foi o país se democratizando se organizando se informatizando, se industrializando e se privatizando... Aos trancos e barrancos, nas lutas e labutas. Brasil, enfim um país de Todos. Lula foi, tem sido e parecer querer ser, um grande líder. Em um país tão jovem de democracia tão engatinhante, o trabalhador se converteu no gigante. Foi o homem, ficou a lenda. Lenda viva. Eis o problema, saiu da política para nela permanecer, nas entrelinhas, nas articulações, no jogo de xadrez a moda Pau Brasil.
    Se não bastasse o prestígio, o senhor ex. presidente é também um homem de vontades e vaidades. Não cabe uma crítica moral quanto o assunto é política. Alias, até cabe, há tempos que o público e o privado se fizeram um só. O homem de vontades, desejos e vaidades quer o melhor para o seu partido. Quer tão bem, vê tão alem dos demais, que tem passado por cima da militância. Tudo que o PT precisava era de alguém que enxergasse alem do que os olhos podem ver.
    O nosso Lula fruto da democracia tem adotado atitudes cada dia mais democráticas. Começou de maneira sutil por São Paulo, impôs Haddad preteriu Marta. No Recife, após João da Costa atual prefeito, vencer as previas, Lula, o democrata, desejou o Humberto Costa. Ordem dada é ordem cumprida, não há democracia que resista aos desejos de um grande líder. Impôs o nome, garantiu apoio do PSB em são Paulo e afastou João da Costa desafeto de Eduardo Campos (PSB) Governador de PE. De brinde, o PSB levou uma cadeira no senado e emplacou a Erundina ex. PT agora PSB como vice do Haddad (PT) em São Paulo.
    Cenas da política brasileira, do Cara e do seu Partido. A atitude lulesca tem dividido a militância do sudeste ao nordeste. E me parece que as pessoas sensatas não esquecem. O tiro no jogo democrático, democracia essa refém da vontade alheia, lançou um alerta vermelho em relação à política brasileira e seu mais cortejado representante. Não parece exagerado qualquer comparação com Putin, alerta ligado é aviso dado. E se Lula resolve ser candidato, e aí Dilma?
    De fato, hoje, esses são os ventos e o estado da obra. Aguardemos os próximos capítulos mandos e desmandos. O ex. presidente, ora parece dono, ora parece gerente do seu PT. As atitudes a mão de ferro, tendem a fazer o partido se envergar cada vez mais às vontades iluminadas de Lula. Cabe a militância o grito de basta, a democracia, a diversidade e pluralidade devem estar acima de qualquer vaidade. Lula e a militância fizeram do PT um grande partido, e hoje sem vacilar ou hesitar, Lula continua a fazer do PT cada vez mais um grande PAR-TIDO, alerta ligado, é aviso dado.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Aquarela do Brasil: Limites e Possibilidades

Poderia ter sido uma sentença de morte. O coito numa noite de eclipse era no mínimo arriscado. Que pensavam seus pais? Que amor desmedido é esse que não poderia esperar minutos para ser exercido? As previsões científicas se confirmaram. Ter ocorrido à concepção em pleno eclipse lhe imputaram marcas. Não era o menino Jesus mais ao nascer toda comunidade comentava o fato. Em termos quantitativos, alguns afirmam que seu nascimento atingiu ouvidos de maior número de pessoas. Especulava-se que pelas suas características tratava-se de um ser dotado de poderes especiais, previsões não confirmadas. Era humano, barroco entre o sagrado e o profano. Outros especulavam acerca das suas características físicas associando-o a mitos que povoam o imaginário da comunidade, Lobisomem? Curupira? Cada comunidade elege seus perigos potenciais. As teorias de Lombroso teriam lhe garantido uma sentença.
O certo é que suas características provocavam a curiosidade, todos queriam vê-lo, presenteá-lo. Mas que tipo de presente oferecer? O que exatamente poderia combinar com um ser de características tão singulares? Eram essas algumas das questões que provocavam grandes ansiedades nas pessoas próximas.
Apesar das tormentas, foi sem dúvida uma criança de sorte, nascerá num tempo onde suas características físicas lhe permitiam transitar em potencial nos diferentes espaços da sociedade. Tudo que o envolvia era tão confuso que só foi possível dar-lhe um nome aos 7 anos de idade, chamaram-no de BlackWhite depois de haver experimentado inúmeros apelidos. Até a adolescência levou uma vida dignamente normal, foi acolhido nos laços sociais comunitários e pôde conviver com pessoas da sua idade. Suas características lhe renderam alguns romances motivados pelo desejo feminino de experimentar o singular, o único. Exercia com muita competência o papel de bandeirante do prazer. A família e a escola foram dois importantes núcleos de socialização e instrumentalização para vida que seguia. Foi chegada à hora de bater asas, alçar novos vôos.
No panorama geral, as transformações sociais e os avanços políticos recentes em seu país produziram condições históricas que lançaram BlackWhite numa crise de identidade nunca antes experimentada. Hora de fazer novas escolhas, consolidar hábitos. Mas que hábitos, que escolhas? Mas quem era esse homem, o que de fato lhe tornava tão especial?
BlackWhite é fruto de um coito realizado sob tabus científicos construídos sob forte influência da elite brasileira. Seus pais se amaram em pleno eclipse desafiando todas as leis da física conceptiva. O resultado foi uma criança que nasceu sob influência celeste marcante, trouxe na pele a marca dos astros. Nasceu com uma pele dividida em duas cores. Era metade branca metade preta. As pessoas que o viam de perfil não poderiam imaginar que do outro lado existia uma cor “diferente”. BlackWhite durante muito tempo brincou com a situação e ao deparar-se com crianças movia o pescoço em 180º, fazia esse movimento lentamente e muitas vezes conseguiu sorrisos tantas outras lagrimas, em síntese, divertia-se.
BW para os íntimos experimentava uma condição existencial quase esquizofrênica. Parecia viver em realidades paralelas. Numa sociedade CorMente determinada, possuir diferentes tonalidades na pele em diferentes oportunidades foi motivo de sofrimento intenso. A cor da pele poderia ser utilizada como condição para ter acesso a diferentes lugares ou não. Se apresentar as pessoas com o lado branco do rosto lhe garantia alguns privilégios e boa educação por parte dos outros. Se apresentar com o lado negro do rosto lhe garantia a possibilidade de acesso por cotas na Universidade alem do status de um bom capoeirista. Quando sofria preconceitos, rapidamente girava 180º e combatia as ofensas com uma tonalidade de voz e pensamentos em defesa do lado ofendido. Certa feita ao visitar determinado restaurante onde os brancos freqüentavam já não sabia como se comportar. Nada dizia que negros não poderiam entrar. Mas era obvio, ou melhor, era nítido que existia um preconceito simbólico. BW sentia-se ameaçado, confuso. Ao deparar-se com o segurança do restaurante, se pôs a girar em 360º graus, se mostrava branco negro, negro e branco, branco e negro, negro e branco instalando uma confusão, já que alguns clientes aguardados entrariam na condição de convidado, o que levou o segurança a perder-se entre as fisionomias registradas em sua lista.
O convívio na sociedade que não os laços familiares reservaram a BW doses cada vez maiores de sofrimento. Era cada vez mais difícil desvencilhar-se de preconceitos. Tudo isso exigia uma energia desmedida, ser branco não era tão ruim, mais ser negro exigia de BW doses muito elevadas de energia para existir. A conclusão a que chegou foi: se eu sou negro 50% e sofro tanto, o que é ser 100% negro no Brasil considerando toda história? A partir dessa reflexão, fez sua escolha, BW resolveu dedicar-se a militância.
Sonhava com uma sociedade sem preconceitos, acreditava nisso, idolatrava Luther King, Mandela, Stive Biko, Zumbi entre tantos outros. Era devoto dos Malês, só não apoiava o extermínio dos brancos, no entanto, entendia que defender tal ideia era legitima quando não se tinha liberdade no passado. Sempre que tinha oportunidade lamentava os massacres em Ruanda. Tinha um discurso local, queria praticas locais e resultados globais. Certo dia, em uma das poucas entrevistas que concedeu, pôde dizer em poucas palavras tudo àquilo que sentia e pensava. Seguem-se trechos da entrevista:
“Vivo e sinto. Minhas características físicas associadas ao momento histórico em que vivo me permitem um discurso honesto. Vim para iluminar potencializar apagando e acendendo as luzes acesas no século 18. É hora de apresentar a fatura de um discurso falso de democracia e exigir a liberdade e igualdade que ao serem pregadas pregaram meu povo em algum lugar para de lá não saírem. É hora de aprofundar as conquistas, consolidar os avanços e derrubar toda e qualquer barreira que impeçam as pessoas de terem melhores condições e igualdade de oportunidades. A educação é uma saída, no entanto, a qualidade da educação deve ser priorizada. Os aspectos técnicos devem dialogar com os aspectos humanísticos independente do contexto”. Disse ainda: “os avanços políticos do país não foram dádivas divinas, os mesmos devem ser afirmados enquanto política de Estado, eles são resultado de embate político e argumentação consistente na defesa de direitos garantidos pela constituição brasileira. A tomada de consciência dos avanços e dos mecanismos pelos quais foram conquistados é obrigação de toda minoria ou maioria excluída. A prática política é onde se abre caminhos de possibilidades para redução das desigualdades. As conquistas não caem do céu ou são fruto da boa vontade”.
Hoje as noticias que chegam acerca de BW são as de que ele segue afirmando suas crenças e valores. Tem vivido a Universidade e observado por dentro os efeitos das políticas de ações afirmativas e permanência onde atualmente já não é difícil avaliar os alcances e limites dessas conquistas. Os entraves são muitos, os méritos maiores e os limites encontrados serão superados, o velho BW continua confiante, pois bem sabe que escolhas realizadas são sentenças instauradas.
Desejamos que a história de BW não seja pontual, sabe-se que em quase todo Brasil já se ouviu falar da sua vida. Existe um pedaço da narrativa comum a todos denunciando que ser igual nas diferenças é nossa lei irrefutável. A vida de BW é como um espelho onde os brasileiros reconhecem a si e aos seus antepassados. BW é preto e é branco e num país miscigenado não é difícil que sua palavra toque cada um em seu pedaço mais intimo, pois no Brasil a maior das purezas é intensamente misturada.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sobre a greve quem se atreve?

Tudo é serio quando se brinca! E sobre a greve quem se atreve? Eu com minhas poucas linhas, militares corajosos, além de “marginais insaciáveis”. Peço licença para ousar escrever fragmentos de pensamentos forjados a partir da compreensão de que as ciências devem estar submetidas às condições sociais de determinado momento histórico. Assim, a formação acadêmica, cujas diretrizes formam tecnicamente as consciências para lerem e intervirem no mundo devem mirar a sociedade, é essa a sua razão. No entanto, frente à pluralidade de homens, as reflexões em muitos pontos se assemelham em respeito às diretrizes, em outros, singularizam-se com doses particulares de subjetividade em respeito às aspirações intelectuais e experiências de cada um. Frente a essas considerações, e ao que se percebe enquanto realidade para essa consciência, o texto trata da greve e desse atrevimento graças a essa.
A polícia militar baiana, fragmentada e dissolvida em suas inúmeras associações, deliberou uma greve que nessas condições começou enfraquecida. Ou seja, o movimento não foi aderido pelos pares como pretendido de modo que se arrasta respaldada pelo terror provocado, méritos do medo disseminado. Outro aspecto importante é a distorção entre o que pensa a associação de PMs e o próprio comando da corporação, as divergências impedem qualquer unidade na luta policial em prol da categoria. A desorganização política não surpreende frente à tamanha fragmentação. Falta planejamento estratégico e político, faltas graves, só não tão grave quanto empunhar armas para reivindicar pacificamente. A polícia armada desarmou o Estado/estado, em tese. As razões pelas quais se luta seriam fortes o suficiente se tivessem o apoio da maioria dos agentes ou da população que no geral não parecem apoiar o movimento. Assim, a PM da um tiro no próprio retrato e desfigura ainda mais a visão distorcida e às vezes bem fundamentada que a sociedade tem da instituição. Reduzir em apenas 6 dias o total de 7 pautas para apenas 2 nos fazem desconfiar da seriedade do movimento. Frente aos fatos, suspeita-se que a policia não seja composta somente por policiais, o que não caracteriza qualquer novidade sendo esse um raciocínio razoável. O movimento de greve joga um balde de sangue na tentativa do governo Wagner e da Secretaria de Segurança do Estado emplacar a marca de uma polícia amiga da comunidade.
O pacto pela vida foi chumbado em 5 dias com um saldo de mortos absurdo. Já é tarde e é possível que já não haja mais tempo para qualquer ação do Estado que assegure uma redução no número de mortos por homicídio e que, por fim, venha salvar sua política de segurança. O saldo positivo de uma pequena redução no número de mortes comemorado pelo governo no ano 2011 sofrerá alterações significativas, conseqüência tanto da greve policial quanto da greve auditiva do Estado que baseado em reivindicações não escutadas permitiu que a greve fosse uma realidade pelo menos para a minoria indignada... que, a título de curiosidade tem como interlocutor um ex. candidato ao Governo do estado pelo PSOL, onde qualquer semelhança com o radicalismo inconseqüente será mera coincidência. O pacto pela vida se vê ameaçado, não só pela greve. As contradições na política de segurança do Estado saltam aos olhos. O modelo já experimentado no RJ que “resolveu parte do problema” vem sendo adotado na Bahia com grande entusiasmo. No entanto, deve-se destacar que as nossas bases comunitárias continuam a não impedir homicídios e trafico de drogas nos locais implantadas. Falta capacidade técnica para gestão das bases e fundamentos estratégicos nas implantações. Segurança pública não se faz com propaganda. A política de segurança na Bahia sofre com suas próprias contradições na busca de um caminho desesperado que solucione o problema. Uma questão histórica não se resolve com medidas políticas em curto prazo. O uso ostensivo da força policial com mais homens e mais carros na rua associado a bases comunitárias mascara o problema numa tentativa desesperada de controle imediato das ameaças. Não adianta o marketing estatal de que existe uma gestão policial de paz se os mesmos canais que veiculam a mensagem denunciam a contradição quando escancaram nas TV,s baianas os corpos cravados de bala pela própria policia em horário do almoço, proporcionando esse tipo de alimento as nossas consciências. A greve de parte da PM baiana fez emergir tais contradições, alem de vandalismo, assaltos, mortes e arrastões pela cidade. Salvador cotidianamente parece viver em zona limite que vai da ordem a desordem. Quando a policia trabalha a ordem estabelecida se vê ameaçada por vezes, com números absurdos que o baiano já aprendeu a tolerar. No entanto, a greve instaurou a desordem legitima nos cantos da cidade. A zona limite foi rompida em vista da desordem e exigi-se muito do poder público para colocar ordem novamente na casa. Salvador é a capital do nordeste que bate recorde de desemprego. Escolaridade da população, e atraso no desenvolvimento do parque industrial são fortes variáveis para justificar a massa de desempregados no município. Uma cidade que pelas características deveria ser o grande laboratório do Brasil sem miséria. Nessas condições, a greve da policia militar representa a possibilidade de grande parte da população encher a dispensa e equipar suas casas com equipamentos novos e sem prestação. Uma pena que poupem as livrarias.
A Bahia é hoje carente de um modelo de gestão claro e funcional. O estado baiano gerido pelo PT insiste em medidas midiáticas e políticas na tentativa de resolver problemas reais dos seus cidadãos, problemas históricos. A administração extremamente política de Wagner tem como marca a ausência de qualquer caminho pragmático na gestão. A condução do país pela presidenta talvez tenha algo a oferecer e ensinar nesse sentido. Não há nada que impeça o PT baiano de aprender com o próprio PT na gestão Federal ou com o PSDB na gestão de MG. O aprendizado em vista da melhor gestão não representa qualquer contradição nesse sentido, pelo contrario, deveria ser uma tendência que muito teria de coerente haja vista as alianças políticas realizadas tanto a nível Federal pelo Partido dos Trabalhadores quanto a nível Estadual; onde atualmente PT flerta com PSD em SP.
A segurança pública passa pela gestão orgânica que é o reconhecimento da sociedade enquanto um todo interdependente. Na situação de greve da PM a segurança militar atinge nessa forma seu modelo maior de falta de segurança, pois, educação, saúde, alimentação, moradia, trabalho é antes de tudo SEGURANÇA. A ausência de políticas nas diversas áreas vitais torna a segurança militar necessária para combater a in-segurança resultado da negligencia histórica de defesa da vida e respeito ao povo baiano. A segurança militar é a segurança da insegurança histórico-criminosa. A greve pontual fundamentada em condições históricas deve ser negociada de maneira séria por parte do Governo Estadual e em caráter de urgência. O senhor Governador não deve afirmar que não negocia com criminosos, com esses se deve negociar até à ultima saliva, porque o seu silencio senhor governador, fez gritar 100 famílias ao chorar seus mortos. O seu silencio nos torna reféns do governo, policia, criminosos. O povo baiano tem escutado seu silêncio, a sua tradição sindicalista não é coerente nesse momento. A resolução da greve é uma urgência, pois, na Bahia de todos os Santos nem esses foram capazes de evitar que nossos jornais escrevessem mais um capitulo sangrento da nossa triste desgraça.