segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Noticia de jorMal

Distante desse modo que me agrada escrever culpa da minha vontade que tem me apresentado uma vida artificial, me lembro de ter guardado em algum lugar do cérebro esse tempo onde respiro... Nessa constatação reconheço-me vivo numa experiência honesta comigo mesmo. Por essa condição, retomo esse lazer da escrita, pois as situações cotidianas sucedem-se e eu agente passivo continuo felizmente a sucumbir frente aquelas que aprendi perceber. A crônica da denuncia crônica que segue é senão um presente oxigenado fundamentada na relação entre a experiência cotidiana e uma noticia de jorMal.
Sendo honesto a tamanha oxigenação, reconheço que a ONDA VERDE do PV me fez pensar Salvador de maneira mais orgânica. A cidade esse organismo vivo com suas ruas/artérias, por onde passam os literais radicais livres (catadores de lata, de lixo, pedintes, flanelinhas, carros e etc.) fôra há alguns dias retratada por um PEQUENO jorMal de GRANDE circulação na cidade, ao fato, dedico essas linhas. Nessas já não cabem desenvolver uma tese acerca da metáfora cidade/organismo, no entanto, segue-se que continuarei tratando das ruas da cidade, do conteúdo das artérias, bem como da má-ticia, eis os fatos.
Um respeitadíssimo jormal referindo-se as ruas dessa cidade publicará uma MÁ/teria sobre um corredor sagrado na abençoada capital. Essa mencionava o corredor da vitória; perdoe-me, mas a reprodução que faço remonta as possíveis falhas da minha memória, no entanto tentarei preservar a preconceituo/precio/sidade da in/formação. A obra literária digna do Nobel dizia:
“O corredor da VITÓRIA símbolo da ostentação do luxo na cidade de salvador, com bela arquitetura, Museus, bela avenida por onde as tropas da vitória marcharam, hoje é símbolo do descaso e do abandono; tomada por moradores de rua, catadores de lixo e pedintes, o corredor se tornou um local inseguro. A população já não suporta os altos índices de assaltos que ocorrem em frente as suas residências. Medo e insegurança tomam conta da vitória”.
Numa escala de 0 a 10 sobre fidedignidade da informação, essa notícia é 11. As justificativas são claras: A primeira observação é que os atributos da Vitória devem exercer um poder de atração que expõe a contradição das suas qualidades tão eno/po/brecidas na matéria citada. Quanta atração dialética, o luxo do lixo é senão motivo das agremiações. A segunda é que no corredor da vitoria correÁdor da cidade e mais do que isso, conotando uma contradição radical, no corredor da vitoria as pessoas estão paradas, sentadas e de mãos estendidas na calçada. No corredor da vitoria a dor corre, escorre e se senta, provocando a ira de uns poucos.
No luxo da vitoria o luxo da derrota, luxo do lixo. O corredor da vitória ostenta as derrotas do não projeto de cidade. A vitória do fracasso resultado de valores historicamente construídos/veiculados, eis a coerência. A vitória da ausência de educação, saúde, trabalho, eis o seu troféu. Hoje quem desfila já não é o exército da salvação, e o JorMal foi sábio, é de fato um outro exército, pacífico e honesto afirmo. O exército da pobreza rica em gente. Moradores que forçam sua entrada no corredor aberto, multiplicidade de gente´s. A Rastafári que dialoga com seu amigo imaginário, os sindicalistas do incha pé próximo ao mercado, a vovó nutricionista que dá receitas e afirma que batata faz mal que o que faz bem é farinha. O senhor que organiza o transito vestido com seu paletó durante 365 dias no ano... Moradores tão autênticos quanto.
O tal jornal estandarte e porta voz de uma elite histérica e amedrontada nos faz um desserviço com sua má/teria. Notícias habituais e costumeiramente preconceituosas. Esses ao qual o jorMal se refere tem no espaço sua função social, parasitas do lixo “pioram”/melhoram a estética do corredor. As contradições urbanas têm nessa simbiose sua expressão mais honesta. Até os assaltos denunciados, caso existam, não são problema pra elite light. No trauma um gozo, no mínimo um pretexto para as compras. Na cidade desorganizada e ordenada, todos ganham tudo é comercio, tudo é capital, as preocupações vitorianas são resultado radical de um chilique estético e só.
O JorMal ataca aqueles que historicamente foram desprovidos da palavra, do direito a expressar-se e veicular suas idéias reinagurando o ciclo das violências. O arTIRO ( artigo que fere mais que bala) jornalístico comete mais um crime contra aqueles que não aparecem e quando o fazem é sob a égide das chagas preconceituosas fundamentada em valores discriminatórios historicamente construídos. Valores que os empurram ao lixo, cadeias, hospitais psiquiátricos, ruas, periferias. Valores que negam e não reconhecem naqueles que atacam o mínimo de humanidade. A animalidade ao qual são reduzidos produz um frisson aos ouvidos atentos. Talvez seja esse um dos nossos possíveis papeis: não negar a palavra quando podemos expressá-la, universitários que como eles sofrem e por isso, com eles lutam, sábia lição Freire.
Nessas breves considerações apresento as impressões de quem com-vive transitando no espaço, faço aqui uma breve recomendação, na verdade um alerta: cuidado com as noticias! Afinal nunca é tarde para advertências “antes tarde do que nunca”, ou melhor, antes nunca que Á TARDE, SALVEM os andarilhos, ou melhor, os trocadilhos.

POESIA DO TÉDIO

Vida acabando...
Tempo? Prostrado.
Sintonia desligado.

Sem vontade
Sem coragem
Sem necessidade
Contempla
À
Não ação

Analgesia
Depressão
Consciência
Tranqüilidade
Paciência

Morreu...
Correu
À
Vida

Tédio
Sem
Remédio

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Da vida corrida a corrida pela vida.

Sou um escritor? Talvez. Mas o que quer dizer escritor? Será aquele que escreve? O mérito de tal definição não me pertence, não há reconhecimento na marginalidade, de modo geral. No entanto, eis uma perspectiva engendrada nessas linhas, que refere-se ao escritor como aquele que sendo violentado por um golpe de realidade nos sentidos, produz o seu escrito do espanto, na surpresa. Desse modo, não reconheço a mecanicidade do escrever como sendo a maneira que defina um escritor. Esses podemos chamar de vendescritores que os seus vendescritos vendem.
Bem, é muito obvio que esta reflexão é pautada na inutilidade das coisas, sendo pensada no espaço de tempo inutilizado, distante da mecanicidade, para mim é um suspiro. Frente à inutilidade do tempo em vista do capital, eis que escrever em um blog se apresenta como sendo justificado, podendo retificar a minha ausência do virtual já que o real mecânico não deixa o espaço para existência.
Feita as idiotizáveis observações, acredito na sua desnecessariedade, assim, desejaria desabafar da violência que meus sentidos foram acometidos, chorando eles uma breve historia.
Numa cidade como Salvador as pessoas vivem... Vive-se de diferentes modos. Algumas vivem com medo, outros vi-vendo a vida dos outros, alguns nem vendo que estão vivendo, resumindo, modos de vida, viventes. Mas o que se vive? Suponhamos que seja a vida. Esse bem que é esquizofrenicamente precioso (são 2 realidades), valoriza-se umas, desvaloriza-se outras. E é sobre a vida que corre, que decorrem essas breves linhas.
A velocidade em que se corre pra salvar uma vida é a mesma velocidade com que essa se vai dos olhos. A vida se vai na mesma velocidade em que o pensamento alienante nos chega. A vida se vai na mesma velocidade em que a exclusão se dá. A vida se vai na mesma velocidade em que o organismo já cansado não a suporta. A velha máxima é uma verdade, (morrer basta estar vivo). Eis uma certeza, da morte biológica não escaparemos, no entanto contra a morte psicológica da alienação ou a morte que se dá pela exclusão (o não reconhecimento em vida) vale a pena a velocidade da escrita. Podemos velozmente escrever sobre, pois dessas ainda esperanceia-se salvação. Todo esforço pela vida é valido por mais claro que seja que é na velocidade que morremos.
Ainda respiro, com ajuda de aparelhos é verdade, essa humilde e viva caneta, agora aliviado. Desmecanizando-me para humanizar-me. Tic, TAC, tic TAC, tic TAC, 1:30 da madruga, já não me resta esse tempo, nem o teu que leu estas palavras. Morremos no tempo que desacortina a vida pelas palavras... O nosso tempo que levou suspiros de existência, enquanto lemos, em ordem decrescente, queimando o pavio da vida, leva um pedaço de existência de vida lhe apresentando o que dessa ainda resta sobre uma outra perspectiva, uma vida humana, na luta, na agonia, na consciência do fim da vida, no entanto da vida viva.