terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sobre a greve quem se atreve?

Tudo é serio quando se brinca! E sobre a greve quem se atreve? Eu com minhas poucas linhas, militares corajosos, além de “marginais insaciáveis”. Peço licença para ousar escrever fragmentos de pensamentos forjados a partir da compreensão de que as ciências devem estar submetidas às condições sociais de determinado momento histórico. Assim, a formação acadêmica, cujas diretrizes formam tecnicamente as consciências para lerem e intervirem no mundo devem mirar a sociedade, é essa a sua razão. No entanto, frente à pluralidade de homens, as reflexões em muitos pontos se assemelham em respeito às diretrizes, em outros, singularizam-se com doses particulares de subjetividade em respeito às aspirações intelectuais e experiências de cada um. Frente a essas considerações, e ao que se percebe enquanto realidade para essa consciência, o texto trata da greve e desse atrevimento graças a essa.
A polícia militar baiana, fragmentada e dissolvida em suas inúmeras associações, deliberou uma greve que nessas condições começou enfraquecida. Ou seja, o movimento não foi aderido pelos pares como pretendido de modo que se arrasta respaldada pelo terror provocado, méritos do medo disseminado. Outro aspecto importante é a distorção entre o que pensa a associação de PMs e o próprio comando da corporação, as divergências impedem qualquer unidade na luta policial em prol da categoria. A desorganização política não surpreende frente à tamanha fragmentação. Falta planejamento estratégico e político, faltas graves, só não tão grave quanto empunhar armas para reivindicar pacificamente. A polícia armada desarmou o Estado/estado, em tese. As razões pelas quais se luta seriam fortes o suficiente se tivessem o apoio da maioria dos agentes ou da população que no geral não parecem apoiar o movimento. Assim, a PM da um tiro no próprio retrato e desfigura ainda mais a visão distorcida e às vezes bem fundamentada que a sociedade tem da instituição. Reduzir em apenas 6 dias o total de 7 pautas para apenas 2 nos fazem desconfiar da seriedade do movimento. Frente aos fatos, suspeita-se que a policia não seja composta somente por policiais, o que não caracteriza qualquer novidade sendo esse um raciocínio razoável. O movimento de greve joga um balde de sangue na tentativa do governo Wagner e da Secretaria de Segurança do Estado emplacar a marca de uma polícia amiga da comunidade.
O pacto pela vida foi chumbado em 5 dias com um saldo de mortos absurdo. Já é tarde e é possível que já não haja mais tempo para qualquer ação do Estado que assegure uma redução no número de mortos por homicídio e que, por fim, venha salvar sua política de segurança. O saldo positivo de uma pequena redução no número de mortes comemorado pelo governo no ano 2011 sofrerá alterações significativas, conseqüência tanto da greve policial quanto da greve auditiva do Estado que baseado em reivindicações não escutadas permitiu que a greve fosse uma realidade pelo menos para a minoria indignada... que, a título de curiosidade tem como interlocutor um ex. candidato ao Governo do estado pelo PSOL, onde qualquer semelhança com o radicalismo inconseqüente será mera coincidência. O pacto pela vida se vê ameaçado, não só pela greve. As contradições na política de segurança do Estado saltam aos olhos. O modelo já experimentado no RJ que “resolveu parte do problema” vem sendo adotado na Bahia com grande entusiasmo. No entanto, deve-se destacar que as nossas bases comunitárias continuam a não impedir homicídios e trafico de drogas nos locais implantadas. Falta capacidade técnica para gestão das bases e fundamentos estratégicos nas implantações. Segurança pública não se faz com propaganda. A política de segurança na Bahia sofre com suas próprias contradições na busca de um caminho desesperado que solucione o problema. Uma questão histórica não se resolve com medidas políticas em curto prazo. O uso ostensivo da força policial com mais homens e mais carros na rua associado a bases comunitárias mascara o problema numa tentativa desesperada de controle imediato das ameaças. Não adianta o marketing estatal de que existe uma gestão policial de paz se os mesmos canais que veiculam a mensagem denunciam a contradição quando escancaram nas TV,s baianas os corpos cravados de bala pela própria policia em horário do almoço, proporcionando esse tipo de alimento as nossas consciências. A greve de parte da PM baiana fez emergir tais contradições, alem de vandalismo, assaltos, mortes e arrastões pela cidade. Salvador cotidianamente parece viver em zona limite que vai da ordem a desordem. Quando a policia trabalha a ordem estabelecida se vê ameaçada por vezes, com números absurdos que o baiano já aprendeu a tolerar. No entanto, a greve instaurou a desordem legitima nos cantos da cidade. A zona limite foi rompida em vista da desordem e exigi-se muito do poder público para colocar ordem novamente na casa. Salvador é a capital do nordeste que bate recorde de desemprego. Escolaridade da população, e atraso no desenvolvimento do parque industrial são fortes variáveis para justificar a massa de desempregados no município. Uma cidade que pelas características deveria ser o grande laboratório do Brasil sem miséria. Nessas condições, a greve da policia militar representa a possibilidade de grande parte da população encher a dispensa e equipar suas casas com equipamentos novos e sem prestação. Uma pena que poupem as livrarias.
A Bahia é hoje carente de um modelo de gestão claro e funcional. O estado baiano gerido pelo PT insiste em medidas midiáticas e políticas na tentativa de resolver problemas reais dos seus cidadãos, problemas históricos. A administração extremamente política de Wagner tem como marca a ausência de qualquer caminho pragmático na gestão. A condução do país pela presidenta talvez tenha algo a oferecer e ensinar nesse sentido. Não há nada que impeça o PT baiano de aprender com o próprio PT na gestão Federal ou com o PSDB na gestão de MG. O aprendizado em vista da melhor gestão não representa qualquer contradição nesse sentido, pelo contrario, deveria ser uma tendência que muito teria de coerente haja vista as alianças políticas realizadas tanto a nível Federal pelo Partido dos Trabalhadores quanto a nível Estadual; onde atualmente PT flerta com PSD em SP.
A segurança pública passa pela gestão orgânica que é o reconhecimento da sociedade enquanto um todo interdependente. Na situação de greve da PM a segurança militar atinge nessa forma seu modelo maior de falta de segurança, pois, educação, saúde, alimentação, moradia, trabalho é antes de tudo SEGURANÇA. A ausência de políticas nas diversas áreas vitais torna a segurança militar necessária para combater a in-segurança resultado da negligencia histórica de defesa da vida e respeito ao povo baiano. A segurança militar é a segurança da insegurança histórico-criminosa. A greve pontual fundamentada em condições históricas deve ser negociada de maneira séria por parte do Governo Estadual e em caráter de urgência. O senhor Governador não deve afirmar que não negocia com criminosos, com esses se deve negociar até à ultima saliva, porque o seu silencio senhor governador, fez gritar 100 famílias ao chorar seus mortos. O seu silencio nos torna reféns do governo, policia, criminosos. O povo baiano tem escutado seu silêncio, a sua tradição sindicalista não é coerente nesse momento. A resolução da greve é uma urgência, pois, na Bahia de todos os Santos nem esses foram capazes de evitar que nossos jornais escrevessem mais um capitulo sangrento da nossa triste desgraça.