Em
Março de 2011, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo (2006) e atual Ministro
das cidades do governo Dilma sacudiu os bastidores da política ao criar o PSD
(Partido Social Democrático) e minguar as bases do DEM (Democratas) – políticos
dissidentes desse último encontraram no PSD seu mais novo abrigo político. Do
ponto de vista ideológico, ou seja, das ideias e valores que fundamentam o
partido, o PSD foi definido por Kassab “como um partido que não é nem de
esquerda nem de direita”. Trata-se, portanto, de um partido coringa que joga e
assume valor ao sabor das circunstâncias. Coringa ou não, o fato é que a
robustez do PSD reservou ao seu líder um lugar de destaque no cenário político
brasileiro, consequência direta da sua capacidade de articulação. Consequentemente,
Gilberto Kassab foi convertido em forte interlocutor do planalto com o
congresso e, além disso, um político habilitado a assumir o todo poderoso ministério
das cidades em 2015. Considerando o que foi dito, é importante destacar que
mais uma vez a capacidade de articulação política de Kassab se manifesta e
assim nos faz ver um filme semelhante ao de 2011: mesmo roteiro, diretor e
protagonista. Todavia, as ações de Kassab nos bastidores do planalto não se
restringem a sacudir a política, mais do que isso, assombram e causam calafrios
na oposição e partidos da base aliada do governo. A razão desse fenômeno é
simples: Kassab agora em alto e bom tom articula e professa a ressureição de
mais um partido, o finado PL.
Dadas
as circunstâncias, Renato Caiado, Deputado Federal, recém-eleito Senador pelo
(DEM) de Go é o porta voz de uma oposição temerosa que enxerga em Kassab “o
cafetão do planalto”. Dito diretamente, a atitude do ministro que propõe
refundar o PL representaria um golpe em vista do enfraquecimento da oposição ao
mesmo tempo em que oxigenaria e insuflaria a base aliada do Governo Dilma. De
posse do Ministério das Cidades – responsável pelo PAC 3, minha casa minha vida
entre outros programas – o ministro tem em mãos a máquina e a chave para
cooptar parlamentares e assim viabilizar o ressurgimento do PL. Por essa
perspectiva, Kassab, denuncia Caiado, “adota uma postura de cafetão e acha que
os deputados são garotas de programa”. Além de Caiado, os primeiros comentários
de Eduardo Cunha, Deputado-Federal pelo (PMDB) do RJ e novo presidente da
câmara dos deputados indicam a trincheira da resistência ao movimento
kassabista. Para Cunha, deve-se buscar a judicialização da refundação do PL. A
ideia é clara: barrar a refundação do partido na justiça e evitar o
enfraquecimento do PMDB e do DEM.
Nesse
contexto, se delineia o horizonte e notas características da maestria de
Kassab. A intenção do ministro é refundar o PL e promover a fusão entre esse e
o PSD – embora negue em público. Essa equação converteria o PSD na 2º maior
bancada do congresso (67 Deputados) ultrapassando o todo poderoso PMDB – sem o
qual ninguém governa ou governava o Brasil. O saldo dessa jogada de mestre seria
suficiente para retirar o Governo Dilma das cordas da chantagem política promovida
pelos partidos da base e colocar o PMDB em cheque, mate? A ver. Com efeito,
Kassab é um personagem que representa um ponto fora da curva no cenário
político atual. Não se restringe as relações parasitárias da política; pensa a
política, analisa o cenário e move com maestria as peças do tabuleiro. Faz
política cotidianamente com base em considerações pragmáticas, ou seja, com
base no que funciona e lhe é vantajoso. Executa em última instância uma Realpolitik cuja prática se sobrepõe a
ideologia e faz viver Maquiavel.
Posto
isso, certamente que devemos respeitar as críticas a Kassab, mas é fato que não
podemos reduzi-lo a um cafetão cuja especialidade é aquela de criar partidos
políticos e agenciar deputados. Sem dúvida que suas ações nos bastidores do
planalto lhe convertem em Maestro da política nacional. Sua capacidade de
articulação faz com que uma pequena jogada seja capaz de mudar e muito todo o
cenário político. Todo esse poder tira o sono da oposição e partidos de centro
que temem ver reduzido seu poder de barganha dado o protagonismo de Kassab
enquanto aliado do Governo Dilma e um dos maiores articuladores da política
brasileira na atualidade, não é pouco. Implícito nesse debate encontram-se
questões relevantes para refletir nosso sistema político. Em especial, a
atitude de Kassab revela: a) o fisiologismo partidário que caracteriza uma
pratica voltada em todo caso para o interesse privado; b) o modus operandi da velha política que
pulveriza e multiplica partidos políticos de acordo as circunstâncias; c) o
partido e seus políticos enquanto elementos de barganha de cargos em troca de
apoio. Se quisermos reivindicar de fato a reforma política, é importante perceber
o que de nocivo a maestria de Kassab revela...Má/estria.