quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Nos bastidores do planalto Kassab: cafetão ou maestro da política?

Em Março de 2011, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo (2006) e atual Ministro das cidades do governo Dilma sacudiu os bastidores da política ao criar o PSD (Partido Social Democrático) e minguar as bases do DEM (Democratas) – políticos dissidentes desse último encontraram no PSD seu mais novo abrigo político. Do ponto de vista ideológico, ou seja, das ideias e valores que fundamentam o partido, o PSD foi definido por Kassab “como um partido que não é nem de esquerda nem de direita”. Trata-se, portanto, de um partido coringa que joga e assume valor ao sabor das circunstâncias. Coringa ou não, o fato é que a robustez do PSD reservou ao seu líder um lugar de destaque no cenário político brasileiro, consequência direta da sua capacidade de articulação. Consequentemente, Gilberto Kassab foi convertido em forte interlocutor do planalto com o congresso e, além disso, um político habilitado a assumir o todo poderoso ministério das cidades em 2015. Considerando o que foi dito, é importante destacar que mais uma vez a capacidade de articulação política de Kassab se manifesta e assim nos faz ver um filme semelhante ao de 2011: mesmo roteiro, diretor e protagonista. Todavia, as ações de Kassab nos bastidores do planalto não se restringem a sacudir a política, mais do que isso, assombram e causam calafrios na oposição e partidos da base aliada do governo. A razão desse fenômeno é simples: Kassab agora em alto e bom tom articula e professa a ressureição de mais um partido, o finado PL.
Dadas as circunstâncias, Renato Caiado, Deputado Federal, recém-eleito Senador pelo (DEM) de Go é o porta voz de uma oposição temerosa que enxerga em Kassab “o cafetão do planalto”. Dito diretamente, a atitude do ministro que propõe refundar o PL representaria um golpe em vista do enfraquecimento da oposição ao mesmo tempo em que oxigenaria e insuflaria a base aliada do Governo Dilma. De posse do Ministério das Cidades – responsável pelo PAC 3, minha casa minha vida entre outros programas – o ministro tem em mãos a máquina e a chave para cooptar parlamentares e assim viabilizar o ressurgimento do PL. Por essa perspectiva, Kassab, denuncia Caiado, “adota uma postura de cafetão e acha que os deputados são garotas de programa”. Além de Caiado, os primeiros comentários de Eduardo Cunha, Deputado-Federal pelo (PMDB) do RJ e novo presidente da câmara dos deputados indicam a trincheira da resistência ao movimento kassabista. Para Cunha, deve-se buscar a judicialização da refundação do PL. A ideia é clara: barrar a refundação do partido na justiça e evitar o enfraquecimento do PMDB e do DEM.
Nesse contexto, se delineia o horizonte e notas características da maestria de Kassab. A intenção do ministro é refundar o PL e promover a fusão entre esse e o PSD – embora negue em público. Essa equação converteria o PSD na 2º maior bancada do congresso (67 Deputados) ultrapassando o todo poderoso PMDB – sem o qual ninguém governa ou governava o Brasil. O saldo dessa  jogada de mestre seria suficiente para retirar o Governo Dilma das cordas da chantagem política promovida pelos partidos da base e colocar o PMDB em cheque, mate? A ver. Com efeito, Kassab é um personagem que representa um ponto fora da curva no cenário político atual. Não se restringe as relações parasitárias da política; pensa a política, analisa o cenário e move com maestria as peças do tabuleiro. Faz política cotidianamente com base em considerações pragmáticas, ou seja, com base no que funciona e lhe é vantajoso. Executa em última instância uma Realpolitik cuja prática se sobrepõe a ideologia e faz viver Maquiavel.
Posto isso, certamente que devemos respeitar as críticas a Kassab, mas é fato que não podemos reduzi-lo a um cafetão cuja especialidade é aquela de criar partidos políticos e agenciar deputados. Sem dúvida que suas ações nos bastidores do planalto lhe convertem em Maestro da política nacional. Sua capacidade de articulação faz com que uma pequena jogada seja capaz de mudar e muito todo o cenário político. Todo esse poder tira o sono da oposição e partidos de centro que temem ver reduzido seu poder de barganha dado o protagonismo de Kassab enquanto aliado do Governo Dilma e um dos maiores articuladores da política brasileira na atualidade, não é pouco. Implícito nesse debate encontram-se questões relevantes para refletir nosso sistema político. Em especial, a atitude de Kassab revela: a) o fisiologismo partidário que caracteriza uma pratica voltada em todo caso para o interesse privado; b) o modus operandi da velha política que pulveriza e multiplica partidos políticos de acordo as circunstâncias; c) o partido e seus políticos enquanto elementos de barganha de cargos em troca de apoio. Se quisermos reivindicar de fato a reforma política, é importante perceber o que de nocivo a maestria de Kassab revela...Má/estria.

3 comentários:

Maíra Nunes disse...

Sou "suspeita", mas sei que não se restringe a isso, minha opinião sobre sua escrita, sobretudo quando o assunto permeia sobre o panorama político brasileiro; suas reflexões apresentam lucidez e coerência para com tal realidade, marcadas por análises profundas e pertinentes, até mesmo das nuances e do contexto histórico envolvido. Sobre o "novo" partido, parece ser uma estratégia interessante para a política nacional, ao propiciar novas configurações e rearranjos políticos. Cabe à base do atual governo, em se tratando de possibilidades de parcerias futuras, analisar a composição do "novo" e a viabilidade de tal "renovação"; para evitar o engessamento do "mais do mesmo"...

Anônimo disse...

Interessante esse modo de ver a questão, algumas coisas ficaram mais claras graças ao seu texto. Continue postando, parabéns.

Maíra Nunes disse...

Lindos; design e foto de perfil!