sábado, 9 de agosto de 2008

Questionamentos de uma vendedora de cachorro quente.

Comer é uma maravilha.. As veses me pergunto se como pra viver ou se vivo pra comer. Porexemplo cachorro quente acho tão gostoso e é bastante saudável do ponto de vista do que tem fome e que compreende que a fome que mata é a de barriga vazia (meu Painho 1967... 2008).
Claro que se perguntarmos a uma nutricionista e ela entrar em uma reflexão critica sobre esse alimento tão popular quanto o cachorro, acabaremos optando por comer coentro, alface ou qualquer outra comida light, diet tão saudáveis quanto.
Aqui em salvador, em suas ruas, facilmente encontramos pessoas que sobrevivem vendendo cachorro quente. Vendem em carrinhos vermelhos onde geralmente existe uma placa com um letreiro em preto ou vermelho que diz: “CACHORRO QUENTE + REFRI 1,00” acho super barato...
Eu por exemplo como varios durante a semana, não que odeie folha e nem que eu goste de entupir artéria, é por um gostar qualquer, tomo mundo gosta de algo, inclusive de acarajé com maionese... O meu gostar não chega a ser um “AMO MUITO TUDO ISSO” é menos global é um gostar bom, e é bom por que é barato, e em tempos de crise eita que maravilha... Eu to numa fase daquelas em que se o dinheiro falasse meus bolsos, carteiras andariam mudos.
Sempre saio da “Universidade” pra comer um Hot Dog, que traduzindo é cachorro quente ou pão com salsicha pra quem não conhece, sempre que saio deixo de lado o senso critico, peço um sem medo de ser feliz e mando-lhe bocadas, repito a operação como recomenda-se nos rótulos de xampus e acabo por comer 2 ou 3. A analise critica deixo para a vigilância sanitária.
NO ultimo dia 7 de agosto saio da “Universidade” e vou então matar quem tava me matando, é a mesma que mata no Brasil e na África e não é AIDS: é Fome. A fome eu mato por que tenho as veses 1, 2, 3 reais, ai como o tal cachorro que nem sempre é quente mais tudo bem. Eu posso e quem não pode? Ou morre ou nem se sacode, por que na fome os movimentos são limitados, o corpo precisa poupar energia.
Era um dia bem quente, infernal, dantesco e ate normal em salvador que a cada dia esta mais quente. Deve ser o adoecimento global, ops aquecimento.
Saio e vou caminhado em direção a uma dessas barraquinhas mencionadas, ando devagar, movimento arrastado, desfilando, eram movimentos calculados pra evitar o suor é claro, e também por desfitudar na facs é claro, é caro, é carro, é calro que desfilar faz parte, carro também (não meu), o caro é obvio e o claro? É claro que o claro é claro, ou melhor os claros, e estes estão em toda parte em todas as salas. Escuro, preto por ali somente o chão onde se pisa, é evidente que o piso de tapete preto esta abaixo de nós, o piso é preto e pisamos, mas deixando a frescura reflexiva sobre a estética do piso. Na saída eis que encontro com a mulher do cachorro quente.
Ela bonita, simpática, uma criatura de aproximadamente 40 anos, dona de uma simplicidade tamanha, educadíssima e agora minha amiga, cativou-me virei freguês... Os olhos dela eram escuros, da cor da sua pele que é da cor dos pisos das salas de aula da facs, onde pisamos, desfilamos e produzimos muito, mais muito conhecimento mesmo...
Fora a anatomia do piso e do corpo, me lembro do dialogo, uma conversa tranqüila, uma conversa que vai e vem, o dialogo ia tranqüilo ate a amiga fazer-me uma simples pergunta, quer dizer, seria simples se não viesse de uma mulher, vendedora de cachoro quente na frente da “universidade” e adulta de 40 anos.
Minha amiga acabará de mecher em minhas feridas e inconsientemente mecheu nas feriads dela, da Bahia, do Brasil, do mundo e só não digo do universo por que não sei como andam nossos irmãos intergalácticos, essa nem Raul sabe, Ô Ô seu moço, do disco voador, ai saudade...
A mulher me perguntou, toda calma –“ o meu lindo isso ai é o que?” perguntava e apontava o indicador balançando o pescoço em direção ao prédio da “universidade”. Eu mastigava demoradamente e ganhava tempo, pensava comigo e agora o que dizer? E ela achando que estava pouco lançou outro golpe – “é tipo uma escola?” é que vejo o pessoal com caderno.
Eu grandiosamente sem graça, pré nocauteado tive que ser monossilábico –“ é”, parecido muito parecido, ai complementei a minha pobre resposta dizendo-lhe estão ai pessoas que podem pagar e pagam para aprender um profissão (Há exceção), e conclui, “eu por exemplo minha tia estudo psicologia”, senti que a havia xingado, não temos culpa, então ela completa – “que bom, português, matemática essas coisas?” E eu pensando que bom nada minha tia, que péssimo, seria bom se ela soubesse e estivesse dentro de uma daquelas salas de aula, talvez assim o piso fosse menos escuro.
Me senti desgraçadamente mentiroso, eu só contei parte da verdade. Menti pra mim também, na verdade eu nem sabia o que era aquilo, não sabia se era faculdade ou universidade, se era totalmente igual ou diferente da escola, se formavam profissionais ou pseudoprofisionais.
Eu me abati por não saber tudo, mais o que ela precisava entender disso tudo eu sabia, sabia e fui covarde lhe ocultando o porquê ela não sabe e o porquê ela ocupa seu corpo vendendo cachorro quente das 8:00 da manhã as 22:00 da noite, e o por que ela não esta em uma sala de aula como as que lá existem.
A implicação de uma pergunta simples quase me leva a chorar, e confesso que chorei, chorei no silencio, no meu silencio e no silencio das minhas palavras esquecidas e eternizadas, eternizado como o momento.
Talvez ter conversado com ela resolva a pequena parte dessa pergunta simples, que contem problemas gigantes. Por exemplo, se ela que esta perto da universidade não sabe o que é, imagine os que longe dela se encontram? Eu torço pra que ela guiando o seu carrinho a gás, chegue em casa e diga a seu filho o significado daquele prédio, a vida dele dependera dessas questões.
A universidade precisa ser mais democrática no seu acesso, ela já contem Kayk, trabalhadores informais, chicleteiros, baleiros ou baladeiros, iveteiros e etc. Ela agora só precisa deixar entrar vendedores de cachorro quente e os seus carrinhos carregados de duvidas, semeando questionamentos simples aqueles que acham que pensam.
Enquanto isso não acontece, os carrinhos continuaram parados, os vendedores estacionados e eu perambulando pela cidade fazendo minha parte. As lagrimas foram ocultas mais as palavras ganharam forma. E a vida ela não para, ela segue e o cachorro mantem sua forma e seuum sabor agradável e amargo.

10 comentários:

Tec. em Zootecnia disse...

Querido amigo, dessa vez acho que vou ter que concordar com você, entretanto, ainda acho controvérsias em seu texto, as universidades ainda estão com as portas bem fechadas o que não era mais para acontecer no século XXI. Porém se papáramos para pensar só um pouquinho, pense uma universidade com as portas abertas para todos os tipos de vendedores ambulantes? O que aconteceria? Talvez um supermercado com algumas salas de aulas e um conglomerado de pessoas “OS ALUNOS” a fazerem compras. O ensino hoje das universidades particulares hoje não é o melhor, o que é errado, se você esta pagando, seria para você receber o melhor que a tal pode oferecer, mais não é o que esta acontecendo, ressaltaria ainda uma frase do seu texto “...diferente da escola, se formavam profissionais ou pseudoprofisionais...”, nesta frase você é bastante feliz em dizer isso comprometendo a sua vida profissional e todo a sua capacidade de conhecimento. Só para concluir meu comentário gostei do seu texto continue escrevendo e lembre sempre “Não existe revolução enquanto todos gostarem das mesmas coisas”...

Um grande abraço, de seu pequeno amigo, mais que gosta de você que só o cabrunco.

Allan de Lima

Kayk Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kayk Oliveira disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

MEU CAMARADA FASCISTA, não é abrir a universidade pra o povo e vender lá dentro não.. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
A reflexão é critica, e é obvio que as universidades particulares não estão nem um pouco comprometida com a qualidade do ensino....
o ensino não é o melhor isso é fato, não se preocupam porque não estão nem ai pra formação, so querem saber do produto final, diploma e rua!!!!

as coisas não são tão obvias como parecem, pensar não mata ninguem...

vamos lá meu camarada, ainda é cedo para a revolução...

sl disse...

Essa questão das universidades é histórica! Têm um texto da Chauí que fala sobre histórico e pressuposto da universidade especificamente no Brasil, segundo ela a transformação da educação em serviço deixou esse atributo cultural basilar nas mãos do mercado, sendo assim, a educação segue as leis mercantis,em outras palavras a universidade não educa,adestra, adestra os futuros marionetes do sistema sob a égide do capital!!!! Sua colocação, kayk, em relação a vendedora de cachorro quente é pertinente exatamente pelo fato de representar uma realidade cotidiana, ou seja, num estado neoliberal educação é mercadoria e custa caro!!!! Sua vendedora de fato nos coloca na parede, por assim dizer, e nos remete a esse absurdo que é pessoas extremamente pobres e sem o mínimo de educação que o maldito estado se atreve a chamar de cidadão, cidadão pra cobrar imposto e o caralho!

"...quando a polícia cai em cima de mim até parece que sou fera..."

(Edsom Gomes se referindo aos camêlos)

Almerson Passos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Almerson Passos disse...

Gostei desse texto rei, interessante quando se propõe a perceber muitas coisas implícitas nessa história, gostei muito... tem um poder de articulação muito bom, continue assim!

Anônimo disse...

e aí, velhão! Bala!

Achei muito legal a revira-volta que você deu no texto. No início parecia algo mais descontraído e depois o clima começa a pesar, gostei!

Victor Hugo disse...

Escrita leve, envolvente, tudo isso alimentado por um profundo delírio crítico!!!
Parceiro, realmente essa é, infelizmente, uma das N distorções apresentadas pelo nosso "país do futuro" futuro que nunca chega ou chegará...foda cara!!!!

ABRAÇÃO!!! e vamos atualizar! hehe

..... disse...

Meu caro kayk, escreva mais! Toda vez venho aqui a procura de suas crônicas e não encontro seu blog atualizado! Saiba, sou um leitor assíduo!

Abraço!

Unknown disse...

Kayk,
Muito bom esse texto ele temuma liguagem leve que causa um reflexão imensa sobre a questão do ensino não só das universidades, mas do ensino em geral ao qual não é dado o devido valor pelos nossos governantes e até mesmo por alguns estudantes filhos de pais. Bjuxx