sábado, 2 de agosto de 2008

UM DIA DE GENTE

Um dia de gente

Era um dia diferente, começou diferente desde o inicio. Alias eu nem sei se realmente começou, porque foi uma daquelas noites em que a atividade lhe consome e você tendo que cumprir prazos acaba por ver a noite metamorfosear-se em uma manhã cinza e rosa, como esta do dia 24/05/2008, manha de um dia diferente, diferente porque foi um dia de 48hs.
Passei a madrugada inteira vendo CD, s de Raul sobre a cama, sentia um friozinho ate confortável, tinha a face inchada, pupila dilatada, e uma xícara marrom sobre a mesa do computador, noite boa, passei por ela me drogando, consumi uma garrafa de café preto... Café pilão até gostoso. Volta e meia me levantava em um ritual estranho de olhar-me frente ao espelho, percebo-me um narciso frustrado, como sou feio, de madrugada é claro. Ate sugeri a mim mesmo que só me olhasse no espelho durante o dia, acho que pra sentir-me bem comigo...
Sim, eu nesse dia tinha que chegar as 07h00min da manhã na “universidade”, fazer um trabalho de Freuderico lima! Tomei banho com um minúsculo pedaço de sabonete, preguiça de pegar outro, o pedaço cheirava a mel e a cachorro molhado, opinião que comungo com minha irmã.
Então me preparo e desço os degraus 2 em 2, saio do meu recanto e vou ao ponto pegar o buzão. As veses me acho místico, sinto coisas, prescinto outras, quase um Kayk Chavier. Nesse dia incrivelmente não ventava imaginei que estivesse insensível por não dormir, e de repente eis que penso na minha morte e fico assim a refletir, tava deslocado e sem orientação, coisa ate comum ultimamente.
Eis que a porra do buzú surge da curva, curvinha curta, cercada de casinhas, surge e me arrebata para a realidade. “É um buzú branco, nome vermelho dos lados e a bandeira dizendo T. FRANÇA”, claro que não é a França do Zidane. Então estendo o dedo num movimento de macho, polegar estendido e gestos bruscos e rápidos, ai o motorista me olha, para o carro, - bom dia motor! O homem balança a cabeça, é ate simpático, moreno, baixinho, óculos escuros em plena as 05h45min da manha! Pra que? É o Roberto Jefferson da Bahia.
O ônibus era um microônibus, tava muito cheio, mas consegui me sentar, povo fisionomia fechada, calados, tal silencio é comum é histórico! De repente uma senhora berra, “foi esse aqui que assaltaram ontem, ainda bem que eu não tava, disse ela”. Eu pensei, que merda, eu ali com medo e essa maluca falando de assalto! E agora? E se me roubarem? Vixe vão levar 2 vales e 5,00 RS, estou perdido pensava!
Enquanto isso silêncio e estrada percorrida... Então de forma rápida o ônibus freia, anda a 10 km/h. Quebrou? Eu pensei. Burburios no ônibus, o silencio da vida cotidiana, dessa relação entre gentes, foi então bruscamente perturbada, não era nem o jogo do Bahia e nem do Vitória, era algo “novo”... Eram dois corpos de adolescentes espalhados ali na pista reta, capotaram um Uno prata, que agora só restava a metade. Eram dois corpos sem vida cercados por sangue, ambos trajavam Jeans, camisa branca outra azul, corpos descobertos e policia ainda a chegar.
Perplexidade, o mundo desaparece é fundo, adolescentes figuras, tristes figuras. No ônibus faces assombradas, olhos tristes, sobrancelhas elevadas, todos em pé contemplando pela janela, em movimentos iguais... Eram homens e mulheres camaleão, diferentes cores porem a mesma expressão. Era uma mimese, olhos que se viam e agora se enxergavam diante de vidas que se foram... Eu todo arrepiado, chocado só conseguia observar a cena, pego a caneta e me ponho a escrever fragmentos da crônica.
Pensava nesse sentimento ruim e estranho, perguntava-me que sentimento é esse “novo” que anula toda a indiferença do cotidiano e faz comunicar-se o ser e o outro? Será que é uma solidariedade e uma identificação intra-especie? Ou se trata de uma urubuzagem humana, um sentimento necrofilo?
20 minutos depois o silencio imperava novamente, a atmosfera era triste, verdade, mas era um novo silencio não o da vida, e sim o da morte. Morte e vida opostas e iguais, iguais no silencio que separam os homens, assim como a morte separa o homem da vida. Então pensei será que a vida não seria uma vivencia de morte?
Aff... Chego enfim ao meu destino, rodoviária, desço desnorteado e caminho atordoado e sem rumo, apenas andava com um único pensamento “pensar em nada”! Mas naquela região o fluxo de vida é intenso, e vibrações do som dos camelos chegavam aos meus ouvidos, então me pego refletindo sobre a letra da musica que tocava, não era Raul é claro, era um tal de “chupa, chupa, chupa que é de uva, chupa mamãe, chupa que é de uva”.
Assim eu criticava a musica, cunhava a uma apologia incestuosa, horrível, mas logo achei uma explicação. Tal musica Freud explica porem aquele sentimento, esse dos humanos frente à morte, esse não tem explicação, não tem porque nem Freud explica. Pois é Sr. Freud, a sexualidade ta na vida porque na morte só espanto, sem libido, sem fixação, só ausência... De vida e Humanos.

6 comentários:

Kayk Oliveira disse...

Espaço dedicado as observações banais do cotidiano. Não se trata de algum tipo de masturbação teorica pra encher olhos de numseiquenzinho ai... Se trata apenas de expressões de um jovem, impulsionado por um imperativo existencial que o leva a escrever..
o espaço é aberto, fiquem a vontade pra escrever, criticar, discutir questões... Um abraço aos seres pensantes...

bzinho disse...

Muito bem amigo, vc está externalizando pra valer os seus sentimentos, sejam eles bons ou ruins, otimistas ou pessimistas. Reais e Surreais.

Kayk Oliveira disse...

é isso ai meu lindo... num posso guardar né!!!!
vamos lá Bruninho...

..... disse...

Num grande centro urbano a sensação face a cenas dessas relatadas por você realmente é de um-não-sei-o-quê, realmente inesplicável! Talvez porque aqui no ocidente é proíbido morrer,a morte é um tabu! Quantas pessoas conhecemos que se propõe a pensar a morte? Isso, no ocidente seria no mínimo algo mórbido!! Nós somos herdeiros de um cultura que nega a morte a todo instante, então morrer é duro, sofrível e muitas vezes inaceitável!!

Unknown disse...

hum... meio deprê, mas vc supera, espero que leve á sério, e que continue exercendo o dom de pensar, colocando emprática o dom de escrever, pensar é para poucos, escrever é cada vez mais raro. cara vc é demais, sim queria saber sobre aquelas sençações que sentia ainda sente, vê, isto me preocupa, a morte... esta ai não me preoculpa, creio na promessa daquele que á venceu, sei, que vc um dia o conhecerá voçê é meu irmão, felicidades

Murilo disse...

ah mano,realidade nua e crua, perfeitamente poético...pensar, refletir e escrever.

com seus olhos observadores vc deve ver muita coisa ruin, ainda assim,felicidades amigo.